Os historiadores do Museu Gilberto Gerlach, localizado no Centro Histórico de São José, estão trabalhando na transcrição de antigos documentos que fazem parte do acervo histórico, entre eles um dos mais emblemáticos, uma carta de Dom Pedro II, promovendo o militar, José Maria D’Almeida Gama Lobo D’eça, de capitão a major do Exército Imperial Brasileiro, em 1845.
Além da assinatura do imperador, de acordo com a historiadora Luciane Dutra, há também a assinatura de pelo menos dois barões e de outra pessoa, que pode ser um funcionário, superior ou testemunha. O próximo passo da equipe é verificar a árvore genealógica do militar da família Gama D’Eça, para compreender o porquê foi condecorado em São José e os demais detalhes.
Um dos elementos que a historiadora chama a atenção é para a assinatura de Dom Pedro II, que possui “cinco pingos”, onde ele retrata o Cruzeiro do Sul, que não pode ser visto da Europa, se tornando um símbolo brasileiro. Outra curiosidade sobre as assinaturas da época é que muitos açorianos que não eram alfabetizados, adotavam o desenho de uma cruz, adicionando alguns elementos para tornar a assinatura “única”. O símbolo da cruz, foi utilizado devido à presença forte do cristianismo.
A historiadora levou três dias para conseguir transcrever a carta – que possui um tamanho maior do que o formato A3 (42 centímetros de largura por 29,7 centímetros de altura) -, além do papel ter partes dobradas, a tinta e o formato da caligrafia tornam difícil a compreensão do texto. O estudo da paleografia (que permite a compreensão de documentos antigos, para auxiliar no acesso à informação), tem sido um dos fortes aliados dos historiadores João Auerbach Neto e Luciane Dutra.
“Estes documentos são de uma importância sem precedentes, atualmente estão sendo transcritos e digitalizados, o que facilita a atividade do pesquisador, garantindo a preservação da memória do documento em si e garante os trabalhos futuros de pesquisadores”, afirma Luciane.
Além da promoção ao militar existem registros de processos administrativos de órgãos, fotos, cartas da tradicional família Ferreira de Mello, uma das ex-proprietárias do imóvel que foi tombado e museu de São José. Ela também cedeu parte do acervo da família ao museu, como adereços de época
Visita ao museu
O museu de arquitetura tradicional luso-brasileira funciona de segunda a sexta, das 8h às 17h. Possui dois pavimentos em alvenaria mista de pedra e tijolo, um acervo da Câmara de Vereadores na entrada principal; a Galeria Gilberto Gerlach recontando a contribuição do cinéfilo para o Município; sala com antigos artigos religiosos, como roupas do Divino Espírito Santo.
Há também uma sala dedicada aos povos indígenas, com a presença de um esqueleto de 4 mil anos A.C., que tinha entre 40 e 60 anos, encontrado na Ilha das Conchas. Há também uma sala dedicada a porcelana de vários países das décadas de 20,30 e 40.
História
O casarão Solar dos Ferreira de Mello, atual museu, foi a primeira edificação tombada como patrimônio histórico de São José. Foi restaurado em 1984 e se tornou museu em 1988. Em 1845 recebeu o Imperador Dom Pedro II e a comitiva para o cerimonial “Beija Mão”, uma tradição de reverência a personalidades eminentes.