Pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em parceria com a Universidade de Pádua, na Itália, acabam de fazer uma descoberta importante sobre a recuperação do cérebro após um Acidente Vascular Cerebral (AVC). A pesquisa, que combina física e neurociência, traz novas perspectivas para o tratamento de distúrbios neurológicos e psiquiátricos, como AVC, epilepsia e Alzheimer.
A chave para essa descoberta está no conceito de “plasticidade homeostática”, um processo que busca restaurar o equilíbrio entre excitação e inibição nas regiões cerebrais. Esse equilíbrio é essencial para a recuperação do cérebro após lesões, como as causadas por um AVC. A pesquisa mostrou que, para que o cérebro se recupere adequadamente, é necessário restabelecer esse equilíbrio, o que pode levar à melhoria do desempenho comportamental dos pacientes.
O estudo foi realizado com dados de ressonância magnética de 120 participantes, incluindo pacientes pós-AVC e indivíduos saudáveis. Esses dados foram usados para construir o “conectoma” de cada participante, que é uma representação das conexões cerebrais. Além disso, os pesquisadores avaliaram o desempenho dos pacientes em diversas áreas, como motricidade, linguagem, memória, atenção e funções cognitivas.
O estudo, liderado pelo professor Rodrigo Pereira Rocha, do Departamento de Física da UFSC, e com a colaboração dos professores Maurizio Corbetta e Marco Zorzi, da Universidade de Pádua, propôs uma nova maneira de entender como o cérebro responde a lesões. A pesquisa destacou a importância da reorganização das redes neurais e do restabelecimento da “criticalidade cerebral”, um estado dinâmico ideal no qual o cérebro funciona de forma flexível, nem excessivamente caótico, nem rigidamente ordenado. Esse equilíbrio é essencial para processos como percepção sensorial, memória e aprendizagem.
Ao aplicar modelos teóricos da física, a equipe de pesquisa criou simulações da dinâmica cerebral de cada participante, usando o conectoma como base. O objetivo era entender como a plasticidade homeostática poderia ajudar a restaurar o equilíbrio entre excitação e inibição nas regiões cerebrais afetadas, facilitando a recuperação das funções cognitivas prejudicadas.
Os resultados foram promissores: a plasticidade homeostática conseguiu restaurar a criticalidade cerebral em alguns pacientes, o que se traduziu em melhorias nas funções cerebrais e no desempenho comportamental. Isso sugere que a normalização desse equilíbrio é crucial para a recuperação de funções que foram danificadas pelas lesões.
Além dos impactos imediatos na recuperação pós-AVC, essa pesquisa abre caminho para novas abordagens terapêuticas em distúrbios neurológicos e psiquiátricos. O professor Rocha, que já estuda a aplicação de conceitos da física para entender o funcionamento do cérebro e de outros sistemas biológicos, continua explorando formas de estimular neuralmente o cérebro para favorecer sua recuperação.
Essa colaboração internacional é um exemplo claro de como diferentes áreas do conhecimento podem se unir para resolver problemas complexos. A física oferece uma abordagem única para entender padrões e dinâmicas que podem ser difíceis de identificar a partir de outras perspectivas. No caso da neurociência, essa combinação pode proporcionar novos insights para tratamentos mais eficazes e personalizados para a recuperação de lesões cerebrais.
Com esses avanços, espera-se que novas terapias possam ser desenvolvidas para ajudar não apenas pacientes com AVC, mas também aqueles que sofrem com outras condições neurológicas e psiquiátricas. O estudo da UFSC, junto com a Universidade de Pádua, pode representar um grande passo rumo a tratamentos mais eficazes e inovadores para a recuperação cerebral.
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