O Hospital Infantil Joana de Gusmão, em Florianópolis, foi palco de um momento histórico neste sábado (15), ao realizar, pela primeira vez, cirurgias para correção da extrofia de bexiga. A condição congênita rara afeta a formação da parede abdominal, da bexiga e da genitália externa, impactando diretamente a qualidade de vida dos pacientes. O procedimento foi realizado com a colaboração de especialistas do Grupo Kelly Filantropia, Solidariedade e Compaixão, que viajam pelo Brasil para compartilhar essa técnica inovadora.
Com as cirurgias feitas no hospital catarinense, os médicos voluntários já ajudaram 130 crianças com essa malformação. Entre os pacientes estavam o pequeno Levi, de 10 meses, de São José, e o jovem Samuel, de 14 anos, de Itapoá, que passou por sua última cirurgia após anos de tratamento.
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Uma cirurgia que transforma vidas
Levi entrou no centro cirúrgico às 6h30 para a primeira grande cirurgia urológica de sua vida. Diagnosticado ainda no útero com onfalocele, nasceu com órgãos abdominais fora da barriga e, logo após o nascimento, precisou de um primeiro procedimento para corrigir a condição. Sua mãe, Tauany Dias Amaral, acompanhou todo o processo de perto, enfrentando momentos de ansiedade e expectativa.
No mesmo hospital, algumas horas depois, Samuel deu um passo decisivo para sua independência. Com 14 anos e um histórico de múltiplas cirurgias desde o primeiro dia de vida, ele agora poderá finalmente deixar as fraldas para trás. A mãe, Janaina Schefer de Jesus, celebrou esse marco, lembrando também de como o hospital se tornou um lugar especial para o filho. Samuel aprendeu a tocar teclado em casa e, ao descobrir o piano do hospital, fez dele uma companhia essencial nos últimos 25 dias de internação.
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As cirurgias, que duraram cerca de dez horas, foram transmitidas ao vivo para profissionais no auditório do hospital, possibilitando o aprendizado de novas gerações de especialistas. O sucesso dos procedimentos reforça Florianópolis como referência nacional no tratamento de doenças raras e cirurgias complexas.
A técnica inovadora que dá esperança
A extrofia de bexiga é uma condição rara, ocorrendo em cerca de 1 a cada 30 mil a 50 mil nascimentos, sendo mais comum em meninos. A doença impede o fechamento adequado da bexiga, da uretra e da parede abdominal inferior, deixando essas estruturas expostas ao nascimento.
Para tratar essa anomalia, um grupo de urologistas pediátricos se uniu há seis anos com o objetivo de levar uma abordagem mais moderna e eficaz a crianças em todo o Brasil. O Grupo Kelly, inspirado na técnica desenvolvida pelo médico australiano Dr. Kelly e aprimorada pelo francês Dr. Marc Leclerc, realiza cirurgias voluntárias que melhoram significativamente a vida dos pacientes.
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O método utilizado requer habilidade extrema, pois envolve a liberação de um nervo essencial para a continência urinária e intestinal, além da sensibilidade da região pélvica. A técnica já demonstrou resultados superiores aos tratamentos tradicionais, proporcionando maior funcionalidade e qualidade de vida às crianças operadas.
Para os médicos envolvidos, cada procedimento bem-sucedido representa mais do que um avanço técnico: é a chance de devolver a esses pacientes a possibilidade de uma vida plena, com autonomia e dignidade. O Hospital Infantil Joana de Gusmão, por sua vez, reafirma seu papel como um dos centros de referência no país para o tratamento de doenças raras, beneficiando pacientes e contribuindo para a formação de novos especialistas.
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