Um projeto de ensino desenvolvido no Câmpus Florianópolis-Continente do IFSC busca resgatar e difundir um prato com valor histórico e cultural para a capital catarinense: o mocotó. Esse ensopado em Florianópolis tradicionalmente é feito a partir de pé de boi, tendo o arroz e o charque como diferenciais em relação a outras receitas de mocotó encontradas Brasil afora. Ele empresta seu nome a uma comunidade da região central da cidade, de onde vieram participantes de uma oficina realizada nesta semana no câmpus.
Os cinco moradores do Morro do Mocotó – que pode ser visto por quem entra na Ilha de Santa Catarina logo acima do túnel Antonieta de Barros – participaram na terça-feira, dia 14, da oficina “De mocotó do morro a Morro do Mocotó: identidade histórica e cultural de Florianópolis”, no Laboratório de Cozinha Regional do Câmpus Florianópolis-Continente.
A atividade foi promovida pelo Núcleo de Estudos em Patrimônio, Gastronomia e Cultura e teve também a participação de estudantes do câmpus. Nela, a professora Silvana Graudenz Müller falou para os participantes sobre a história do preparo do mocotó na comunidade, sobre os diferentes tipos de mocotós que existem no Brasil e sobre as características e a importância do tipo “manezinho” do prato. O mocotó de Florianópolis é parecido com uma canja e leva arroz branco, colorau, charque, bucho bovino, defumados e temperos. Depois da exposição teórica, estudantes do câmpus e os moradores do Morro do Mocotó foram produzir o prato no laboratório.
Segundo a professora Anita de Gusmão Ronchetti, também integrante do núcleo de estudos, o objetivo do projeto é “ressignificar e difundir” o mocotó como patrimônio cultural de Florianópolis. Para isso, já foram realizadas oficinas para estudantes do IFSC e, na última terça, uma atividade do mesmo tipo aberta a habitantes do Morro do Mocotó, convidados por meio da associação de moradores. O conhecimento sobre o mocotó também vem sendo disseminado nas aulas dos cursos de Cozinha e de Gastronomia do câmpus.
A aposentada Elizabete da Silva Ribeiro, 56 anos, nascida e criada no Morro do Mocotó, conta que, desde criança, lembra de esse prato ser produzido para momentos de festa na comunidade e em reuniões familiares “Logo me interessei [pela oficina] porque isso é parte da nossa cultura. Florianópolis não é só peixe e pirão. O mocotó faz parte da nossa história”, afirma.
Já na família da estudante universitária Thaise Tamires Lopes Santos, 36 anos, também moradora do Morro do Mocotó desde que nasceu, o mocotó não é uma tradição – seus familiares vieram de Imbituba, no Sul do Estado. “Pra mim, é uma oportunidade de aprendizado. Não podemos deixar essa cultura morrer”, alerta. Segundo Thaise, o hábito de cozinhar o mocotó ainda resiste na comunidade com os moradores mais antigos.
Antes chamado “Morro do Governo”, o Morro do Mocotó ganhou esse nome no início do século XX. Moradores da localidade costumavam preparar o mocotó para operários que trabalhavam na construção da Ponte Hercílio Luz (inaugurada em 1926), o que tornou a região conhecida pelos seus bons cozinheiros.