O famoso efeito manada, também conhecido como comportamento de rebanho, está presente entre nós desde os primórdios da humanidade. Ele é uma resposta inata à necessidade ancestral de segurança, cooperação e sobrevivência em grupo. Essa tendência remonta às primeiras comunidades humanas, onde participar de grandes agrupamentos não apenas protegia contra ameaças externas, mas também permitia uma distribuição eficiente de tarefas e recursos, aumentando as chances de sobrevivência.
De acordo com o pós PhD em neurociência e antropólogo, Fabiano de Abreu Agrela, essa atitude ocorre de maneira inconsciente, proporcionando uma sensação de conforto por pertencer a um grupo. “Esse fenômeno desempenhou um papel crucial em eventos históricos, como a formação de tribos e civilizações antigas, onde a coletividade era essencial para enfrentar desafios como caça, criação das prole, proteção e adaptação ao ambiente. Hoje, ainda herdamos essa necessidade dos nossos ancestrais”, explica o especialista.
Essa tendência de querer se sentir incluído é influenciada por fatores genéticos que herdamos da pré-história. Fabiano explica que essa necessidade de aceitação está intrinsecamente ligada aos instintos primitivos humanos. “Além do instinto de sobrevivência, o instinto reprodutivo pode ser associado ao narcisismo e à busca pela aceitação para alcançar conquistas pessoais. Esse mecanismo evolutivo impulsionou a formação de pares e grupos reprodutivos, promovendo a perpetuação da espécie e o desenvolvimento de habilidades sociais”, acrescenta.
O organismo, visando a sobrevivência, reconhece a importância de andar em grupos, e isso gerou ao longo dos milênios a evolução de regiões do cérebro, como o córtex pré-frontal que desempenha um papel crucial nesse processo. “Esta área foi se desenvolvendo ao longo da evolução e contribuiu para a tomada de decisões coletivas, estratégias de caça e defesa eficientes, moldando a organização social desde os primórdios. A necessidade de ser aceito pela maioria também está relacionada a várias regiões do cérebro que são envolvidas na percepção social, processamento emocional e tomada de decisão”, ressalta.
Por exemplo, o sistema límbico, especialmente a amígdala e o hipocampo, estão envolvidos na regulação das emoções e na formação de memórias, especialmente memórias emocionais ligadas a experiências sociais. As áreas têmporo-parietais, que incluem o córtex temporal superior e o córtex parietal inferior, desempenham papéis na compreensão e interpretação de informações sociais, gerando a habilidade de compreender os pensamentos e sentimentos dos outros. No córtex cingulado anterior e ínsula, estão associadas à empatia e à experiência emocional compartilhada, ajudando a criar laços sociais e a compreensão das emoções dos outros.
Essas regiões trabalham em conjunto para processar informações sociais e gerar comportamentos que favorecem a interação e a coesão social, como a tendência de andar em grupos. Mas o antropólogo explica que esse comportamento é também influenciado por fatores culturais e de aprendizado social, e questões socioeconômicas, como a pobreza, que desempenham um papel significativo no desenvolvimento e perpetuação desse fenômeno. “Em ambientes socioeconomicamente desfavorecidos, a dependência de grupos pode ser acentuada, visto que a sobrevivência muitas vezes requer esforços coletivos. Essa dinâmica ainda se torna um facilitador político para conquistar massas, onde líderes podem explorar esse comportamento instintivo para consolidar poder e influência, podendo manipular as massas fazendo-as sentir-se especiais, promovendo confrontos contra outros grupos, fazendo com que eles tenham sempre um inimigo em comum que possa ser culpado pelas mazelas sociais de um local”, alerta Agrela.
Mas ele reflete que hoje em dia, indivíduos com maior inteligência emocional destacam-se ao conseguir viver bem em sociedade, mas também de forma independente do grupo, apenas com a própria companhia.
Sobre Dr. Fabiano
Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues é Pós PhD em Neurociências eleito membro da Sigma Xi, membro da Society for Neuroscience nos Estados Unidos, membro da Royal Society of Biology no Reino Unido e da APA – American Philosophical Association também nos Estados Unidos. Mestre em Psicologia, Licenciado em Biologia e História; também Tecnólogo em Antropologia e Filosofia, com várias formações nacionais e internacionais em Neurociências e Neuropsicologia. Membro das sociedades de alto QI Mensa, Intertel, ISPE High IQ Society, Triple Nine Society, ISI-Society, Numerical e HELLIQ Society High IQ. Autor de mais de 220 artigos científicos e 17 livros.