O rompimento de uma caixa d’água da Casan no bairro Monte Cristo, em Florianópolis, repercutiu na sessão de quarta-feira (6) da Assembleia Legislativa, com deputados cogitando criar uma CPI para apurar os fatos.
“O rompimento foi uma tragédia, algo precisa ser investigado para ver o que aconteceu com a caixa d’água da Casan em Florianópolis. Aviso não faltou, dias atrás alguém estava rebocando a parede da caixa d’água e um morador ligou dizendo que haveria um problema”, relatou Matheus Cadorin (Novo), acrescentando que existem cerca de 150 caixas d’água iguais em Santa Catarina.
Lunelli (MDB), Sargento Lima (PL), Sérgio Guimarães (União), Ivan Naatz (PL), Neodi Saretta (PT), Jair Miotto (União) e Padre Pedro Baldissera (PT) também destacaram a tragédia.
“Uma vergonha ver a situação daquela construção, vamos abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), porque com certeza neste mato tem coelho, tem de ser apurado”, analisou Lunelli.
“Quero deixar bem claro que na noite de ontem fizemos uma audiência pública nos Ingleses sobre a mesma temática e cheguei à conclusão de que a incompetência, a inoperância e a preguiça do dia de ontem estamos colhendo hoje”, avaliou Lima, que pediu a apuração da responsabilidade de servidores da Casan.
“Cheguei no local por volta das três da manhã, um cenário desolador, muitas famílias perderam quase tudo, são 150 famílias desalojadas. A parede que desabou foi a da rua geral, da frente do Batalhão, é preciso investigar quem errou, a obra foi entregue o ano passado”, disparou Guimarães, que citou protocolos de pedidos dos moradores à Casan para conter vazamentos.
“As pessoas estão saindo por aí apontando o dedo para a Casan, para o governador Jorginho e para o governo como um todo, mas é importante dizer que a caixa d’água foi construída no governo passado, foi inaugurada em 25 de março de 2022. Não vamos tirar a responsabilidade da Casan, foi a empresa que construiu, mas não podemos deixar que o incidente recaia sobre o governo atual”, ponderou Naatz.
O representante de Blumenau sugeriu a criação de Comissão Especial para acompanhar as investigações.
“Uma comissão especial para acompanhar a apuração que está sendo feita, convocar os presidentes do órgão e, após, quem sabe, apresentar uma CPI, mas neste momento o adequado seria uma comissão especial”, avaliou Naatz.
“Já levantei essa preocupação na reunião com a Agência Reguladora de Serviços, essa tragédia precisa deixar uma lição, que a Casan faça imediatamente uma análise de todos os reservatórios, porque outro fato como este não pode se repetir, aqui tem responsabilidades que precisam ser apuradas”, concordou Saretta.
“O mais importante é a indenização para as pessoas, é muito mais gente que no caso da Lagoa da Conceição. Uma reunião está agendada para segunda-feira (11) para ouvir o presidente da Casan, não podemos nos omitir”, admitiu Miotto.
“Também estive no local para ver o acontecido, sem dúvida foram imagens altamente preocupantes e a destruição foi muito forte, causando enormes prejuízos para as pessoas. Nossa solidariedade a todas as famílias atingidas”, pontuou Padre Pedro.
Ao final da sessão, Marquito (Psol) noticiou o protocolo de pedido de abertura de CPI para apurar o rompimento da caixa d’água e solicitou o apoio dos colegas para reunir as 14 assinaturas necessárias.
“Ainda bem que aconteceu às duas horas da manhã, a qualquer hora do dia seria uma catástrofe, com crianças na rua, carros, seria uma cena de guerra. E se o rompimento tivesse sido na parte inferior, também seria catastrófico”, informou Marquito.
Tortura no sistema socioeducativo
Jessé Lopes (PL) rebateu relatório do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT) que apontou a prática de tortura no sistema socioeducativo do estado.
“O MNPCT foi criado em 2013 e eu nunca ouvi falar desse órgão, aí 20 anos depois, do nada, aparecem em Santa Catarina e vão no sistema socioeducativo, prisão para menor e vão lá perguntar como estão sendo tratados e aí, lógico, traficante, assassino, todo tipo de vagabundo, não tem compromisso com a verdade e aproveitaram para fazer a choradeira deles”, avaliou Jessé.
O deputado pediu aos colegas para visitarem o Case de São José.
“São seis refeições por dia, só ser for de muito comer que eles são torturados, em São José é um SPA, a juíza falou que os detentos têm de tomar suco natural, não pode ser de caixinha”, ironizou Jessé.
“O que vamos dizer para a mãe que cria dois filhos sozinha, obrigada a trabalhar meio período por que não consegue creche? O que diremos para ela? Reze par seu filho cometer um crime e ele vai para um lugar de descanso e aprendizagem”, discursou Lima.
“O meu sonho é que um dia os nossos presídios fossem todos eles autossustentáveis, onde os detentos tivessem de trabalhar em uma fazenda, ou produzindo para nossas indústrias, com dignidade”, confessou Lunelli, arrancando elogios de Jessé.
“Sou testemunha viva do sistema, um rapaz de 17 anos assassinou um policial militar e foi passar férias no sistema e quando foi solto, veio me assaltar e me deu três tiros na cabeça”, lembrou Carlos Humberto (PL).
Joinville Blue Zone
Cadorin anunciou que Joinville sediará um experimento social denominado Zonas Azuis, que, segundo o deputado, é capaz de aumentar a expectativa de vida das pessoas.
“Há mais de um ano a equipe do Blue Zone está em Santa Catarina estudando como implementar a proposta de engajamento da população e a cidade escolhida é Joinville”, anunciou Cadorin, que destacou a capacidade associativa e o voluntariado do joinvilense.
Universidade da PRF
Lunelli (MDB) criticou a intenção de mudar para Brasília a sede da Universidade Corporativa da Polícia Rodoviária Federal (PRF), atualmente localizada em Florianópolis.
Segundo Lunelli, a universidade foi fundada em 2014 e desde então se consolidou como referência em capacitação de servidores da União, dos estados e municípios. O deputado protocolou moção pedindo às autoridades federais a reversão da decisão.
Mudanças climáticas
Padre Pedro Baldissera registrou que em 2022 cerca de 13% da população brasileira foi impactada por eventos climáticos extremos e se solidarizou com as vítimas das inundações do Vale do Taquari, no Rio Grande do Sul.
“Um número significativo, em Santa Catarina em 2022 mais de 25% da população foi atingida por eventos climáticos extremos, considerando também a estiagem. Nós sempre convivemos com eventos climáticos, mas nunca como nos primeiros anos deste século, a situação exige medidas de urgência e planejamento de médio e longo prazo”, sustentou Padre Pedro, que reclamou a falta de investimentos em prevenção e mitigação dos efeitos.