Na manhã desta quarta-feira (23), moradores da praia do Forte, em Florianópolis, voltaram a protestar diante de mais um capítulo de uma batalha judicial que já dura mais de 40 anos. Desta vez, a Justiça Federal determinou que oito casas localizadas ao lado da Fortaleza de São José da Ponta Grossa devem ser desocupadas em até 72 horas. A demolição dos imóveis está programada para esta sexta-feira (25), e a ordem veio após a União dispensar uma audiência de conciliação.
As casas em questão ficam em uma área tombada e protegida, sob responsabilidade do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), e estariam ocupando irregularmente um espaço público com construções e ampliações sem autorização. Segundo a União, houve aumento significativo nas áreas de telhados, construção de decks, piscinas e até uma nova edificação, além de retirada de vegetação. Para os órgãos federais, essas intervenções atrapalham o acesso público à praia e impedem a finalização de obras de preservação na Fortaleza.
Mas, para os moradores, a história é outra. Segundo eles, a ocupação do local vem de muitas gerações, desde que seus antepassados chegaram ali há mais de 150 anos. A família Alves da Luz afirma que tudo começou com a medição oficial da área em 1834, onde um dos patriarcas já ocupava a região que hoje está em disputa. Desde então, o local passou de geração para geração, abrigando não só casas familiares, mas também pequenos comércios, como um restaurante tradicional, fechado atualmente por causa da ação judicial.
O comerciante Ivânio Alves da Luz, de 65 anos, cresceu na praia do Forte e há mais de 45 anos administra o restaurante da família. O prejuízo com o fechamento já passa dos R$ 20 mil. Sua irmã, Ione, e sua prima, Neusa, também moram em casas ameaçadas pela decisão. As famílias estão retirando móveis e objetos pessoais com medo de perder tudo caso as demolições ocorram. Crianças, netos e idosos estão entre os moradores que podem ficar sem teto.
Em fevereiro deste ano, a demolição já havia sido tentada, mas foi interrompida de última hora. Na época, moradores acreditaram que haveria possibilidade de diálogo com o governo federal, o que acabou não se concretizando.
Agora, com a nova decisão e o prazo apertado, o clima na comunidade é de tensão e tristeza. Para os moradores da praia do Forte, a luta é mais do que por um pedaço de terra: é por sua história, identidade e pertencimento. Eles afirmam que não são invasores, mas descendentes de pescadores e trabalhadores que ajudaram a construir parte da história da região.
A poucos metros dali, a Fortaleza de São José da Ponta Grossa, cartão-postal de Florianópolis, segue como testemunha silenciosa de um conflito que desafia o tempo e expõe o embate entre preservação do patrimônio público e o direito à moradia e à memória familiar.
Ver essa foto no Instagram
Entre na comunidade do AGORA FLORIPA e receba informações gratuitas no seu Whatsapp!