São José será o primeiro município catarinense a promover formação contínua de todos os professores sobre relações étnico-raciais. Essa iniciativa integra o projeto “Novembro é todo dia”, desenvolvido pela equipe Erer (Educação para as Relações Étnico-Raciais) da Secretaria Municipal da Educação, e foi apresentada em um café da manhã nesta quarta-feira (24), na Prefeitura de São José, ao prefeito Orvino Coelho de Ávila.
Pela proposta, a formação será constante, levando informações e ações de inclusão e diversidade etnicorracial nas escolas de educação infantil, ensino fundamental, de jovens e adultos, atuando de forma efetiva no combate às desigualdades. A meta é de formar os mais de três mil professores das mais de 70 unidades escolares da rede municipal na conscientização e combate ao racismo, por meio e minicursos, palestras e ações que serão promovidas semanalmente.
Anteriormente, cada unidade da rede pública de ensino enviava de dois a três professores, totalizando cerca de 300 pessoas que recebiam formação sobre questões raciais somente em novembro. A iniciativa da equipe Erer vai providenciar um aumento de 1.200% no número de servidores preparados para o assunto. “Precisamos trabalhar a relação escola e famílias e este conjunto tem que espargir na sociedade toda a forma de conviver. Somos todos iguais e irmãos”, declarou a secretária de Educação de São José, Maria Helena Krüger.
O prefeito Orvino Coelho de Ávila, um entusiasta da inclusão racial, destacou que a equipe do Erer está empenhada e conhece o assunto. “Temos visto o racismo presente, todos os dias em todas as áreas e nas mais diversas profissões. É inadmissível em pleno século 21 esta questão da igualdade racial não ser tratada com responsabilidade. Importante que façamos a nossa parte, para termos uma sociedade melhor”.
Durante a reunião, foi enfatizado o fato de que desde que promulgado a Lei 10.639 de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”, a Prefeitura de São José conta pela primeira vez com uma equipe atuando no Erer.
A equipe é composta por cinco professores efetivos da rede municipal de ensino, especializados na área de relações étnico-raciais, que desenvolverão de forma intermitente um trabalho de preparação dos servidores da rede de ensino. Serão desenvolvidas diversas ações, como oficinas e palestras, que funcionam durante o ano todo. “Na maioria das vezes a ampla maioria é favorável a algum fato, mas não se manifesta. A questão racial é um assunto que alguns acham delicado, mas as pessoas são favoráveis a acabar com o racismo”, declarou o prefeito Orvino.
Novembro é todo dia
O coordenador do Erer, Marcelo da Silva, relatou que a equipe vai trabalhar na produção de conteúdo gráfico que será distribuída aos alunos, professores e familiares em forma de cartazes e panfletos, elaboração de artigos de conscientização e de inclusão, criar um protocolo de atendimento à violência racial, criando um canal direto de contato, organizando e-mails e demais mídias com intuito de focar nos casos de discriminação racial e preconceito. A equipe pretende promover mais cafés de inclusão de lideranças, onde são apresentados o projeto e as metas.
A equipe vai promover durante o ano minicursos, aulas expositivas nas unidades de ensino, participar de reuniões pedagógicas. Marcelo explica que haverá três ciclos de formação para atender todos os professores da rede municipal, no dia 12 de junho, na Casa do Educador, quando serão atendidos 1.391 professores e especialistas da educação infantil.
O segundo ciclo de formação será em agosto, na Casa do Educador, com mais de mil professores. O coordenador do Erer acrescenta que neste segundo ciclo também terá início o ciclo de formação das escolas integrais. O terceiro ciclo de formação, também na Casa do Educador, dependerá dos resultados das etapas anteriores.
“A nossa proposta é de por meio destas formações criar espaços de interlocução e de debates com o intuito de fomentar entre os professores a necessidade de ampliar os instrumentos de combate ao racismo e as desigualdades nas escolas da rede, possibilitando aos seus alunos uma educação antirracista, transformadora e emancipatória”, acrescenta o coordenador.
Em novembro, mês da consciência negra, será promovido uma reunião para avaliação de todas as ações feitas pela ERER durante o ano. “Temos percebido que esta gestão tem mostrado interesse nas ações voltadas aos assuntos étnicos-raciais e isso é muito importante”, destacou Marcelo.
Em Santa Catarina, detalha o coordenador, cerca de 15% da população composta por negros e São José, este número chega a 20%. “Não é mais possível comemorar o mês da consciência negra enquanto atividades isoladas que cumprem uma agenda desconectada com a realidade das unidades de ensino do município”, defende Marcelo.